segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Desabafo de Condeubense indignada com a violência na cidade

Abaixo, desabafo de uma cidadã Condeubense indignada com a violência na cidade:

"Fevereiro, mês de Carnaval, mês de festa, alegria e comemorações...mês em que presenciei Condeúba  (pequena cidade do Sudoeste da Bahia)  tendo seus dois únicos bancos ( Brasil e Bradesco) sendo assaltados.
Estado de choque! Sentimento diferente não senti quando presenciei o teatro a céu aberto que se tornou a pequena praça da feira onde levamos nossas crianças para passear, onde compramos nosso alimento e  encontramos amigos para papear sendo metralhada como tiroteios em filmes de bang bang. Choque mesmo senti quando vi condeubenses “aplaudindo” os assaltantes com gritos a cada tiro soltado, como se aquilo  - na verdade uma ofensa a nosso povo trabalhador - , fosse uma festa, uma representação....
Pior mesmo foi observar os assaltantes jogarem moedas como um Robin Wood às avessas e as pessoas, como porcos que se contentam com lavagem, correrem risco de vida catando saquinhos de “nicas” pelo chão ... e a cada rajada de tiros soltas corriam com medo de serem atingidos, mas claro, sempre voltando irracionalmente para continuar a labuta de pegar o resto do dinheiro roubado...isso mesmo... ROU - BA - DO! Sem perceberem que eles também eram atores do processo, ou seja, assaltantes. Assistir nosso povo mudar de personagem , de gente ética para cúmplices de assaltantes foi triste! Mais triste ainda foi perceber que as pessoas que corriam de um lado para outro em busca de moedas não se davam conta do papel de tolos que faziam... por isso estou aqui revoltada, pasma, indignada!!
Condeúba, terra de povo hospitaleiro! Isso mesmo! Tão hospitaleiro que recebe de braços abertos e como heróis bandidos. Aprendi que bandidos são pessoas que não souberam se sustentar de forma digna e acharam mais” inteligente” assustar pessoas, matar e invadir o espaço do outro lhe tirando tudo o que conseguiram com esforço e persistência.
_ O dinheiro é do Estado e eles nem matam ninguém  - diziam os que ali presenciavam a “encenação”.
Dinheiro do Estado que eu me lembre é dinheiro meu, seu, nosso! Dinheiro que conseguimos com nosso suor... e “pagamos” através de impostos... ou eu estou vivendo em outro mundo e não entendi esta ótica ainda?? Outra coisa, eu gostaria de ver um desses que disseram que eles nem matam ninguém sair correndo bem na hora do ato só para ver seus miolinhos serem espalhados pelo banco, lindos e vermelhinhos pelo chão (risos). Será que aquelas escopetas lindas e grandes só serviam para enfeitar? Aqueles tiros ao redor dos bancos seriam de mentira? Ah! Economizem-me! É claro que uma figura que se dispõe em roubar milhões de reais de um órgão está sim preparada para morrer ou MATAR! Se assim não for a partir de hoje passarei também a acreditar em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e mais uns personagens lindos que mainha citava em histórias na cabeceira de minha cama quando criança.
Estou abobalhada ainda mais com os meninotes que mal criaram barba carregando dinheiro roubado e dizendo que iam fazer farra com aquilo e ainda se exaltando por terem acenado pros bandidos e de terem sido “reconhecidos” por eles. Anh? Como é isso?? Ser reconhecido por um “herói” desses deve ser realmente um grande feito para nossa sociedade né?Enfim, o mesmo povo que se diz honesto vaia policiais por não terem enfrentado os bandidos. Faço um parêntese para lembrar que esses profissionais ganham uma merreca para carregarem armas de baixo porte, não tem estrutura decente para trabalhar e ainda por cima sustentam nas costas um sistema desorganizado e pior, só são lembrados pelos erros cometidos por colegas que não souberam manter de forma íntegra sua profissão. Não estou aqui dizendo que não há policiais corruptos, há sim! Policias, professores, políticos, garis, etc. .... ... ..., assim sendo corruptas são pessoas e não CLASSES. Por isso não vejo mal algum em policiais que não enfrentaram os bandidos que na verdade estavam ali amparadas pelos muros imorais construídos em nossa sociedade. 
Acho que mais uma vez estou errada ou indo de encontro à maré. Por que aplaudir quem rouba e vaiar quem está trabalhando? Como é esta equação mesmo? Que matemática é esta? Não sei. Nunca soube. Nunca entendi quem zomba de um trabalhador! Nunca compreendi quem culpa o poder público ao ver que, se for para existir culpados, seremos nós, SOCIEDADE. 
Esqueci de dizer que enquanto o assistíamos o “teatro na praça”, o hospital público recebia pessoas passando mal. Que enquanto algumas pessoas se humilhavam (achando bonito que estavam fazendo) catando moedas os funcionários dos bancos tiveram seu sossego tirado, mães ligavam desesperadas para saber notícias de seus filhos, cidadãos eram tidos como reféns e um carro foi queimado deixando várias vidas em perigo. Enquanto os fuxicos eram espalhados pela cidade, pessoas ficaram sem dinheiro para almoçar, sem dinheiro para voltar para suas cidades e se recuperando de ferimentos adquiridos com os vidros estilhaçados, sem contar nos transtornos psicológicos de quem teve arma direcionada na cabeça, de quem teve que lembrar senha para abrir cofres e de quem foi deixado do meio do mato sozinho sem saber ao certo o que iam fazer em suas costas... mas nããããããããaooooooo .... este “povo”  não importa com estas conseqüências “mínimas” de um assalto numa cidade como a nossa. O que vale mesmo é encher o próprio umbigo de alegria ( lê-se dinheiro ), olhar para si com seu egoísmo exacerbado e exaltar a quem acha bonito e elogiável fazer maldade. 
Por isso, eu, condeubense, não acho justo nem tampouco louvável assistir a espetáculos de violência com os de hoje e perceber o que está se tonando nossa pacata Condeúba.

* Onde está escrito POVO, lê-se a minoria que está levantando a “moral” dos assaltantes."

Marittza Danielle, 29 anos
Professora de história e cidadã condeubense

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