sábado, 27 de novembro de 2010

AOS ESTUDANTES QUE LUTAM!

                                                                                                                              Valquíria Lima[1]


“Que vivan los estudiantes,


Jardín de nuestra alegría,


Son aves que no se asustan


De animal ni policía.”

O fragmento acima, retirado da bela canção ‘Me gustan los estudiantes’ de Mecedes Sosa, gravada em plena ditadura militar argentina, nos lembra que os estudantes são aves que não se assustam e, de fato, se um coração de estudante estiver disposto a mudar o mundo, nada o amendontrará. O mais impressionante, quando lembramos de um estudante que acredita em uma outra sociedade e em uma outra educação, é a sua capacidade de acreditar no sonho e ir atrás dele, entendendo que a utopia é ‘o horizonte’ que sempre se move e que sempre buscamos, como nos diz o escritor chileno, Eduardo Galeano.

A escola pública tem, na sociedade, o papel central de entendê-la (questionando, aceitando e/ou recusando a realidade dada). Estar em uma escola/ universidade é justamente se propor a estar dentro deste jogo de leitura crítica do mundo, permanentemente. Mas, cabe a cada estudante escolher um lugar confortável (muitas vezes conformado) ou tenso (e, por vezes, insatisfeito) para estar. O lugar de tensão é sempre o lugar do questionamento, da pergunta, da divergência, do acordo, do desacordo, da proposta, do sonho, é o lugar, então, daqueles que escolhem fazer MOVIMENTO ESTUDANTIL!

Os anos em que estudei, foram anos de movimento, anos de busca pelo conhecimento, anos de aprender dentro e fora da sala de aula. Posso dizer isto sem medo, pois tive o movimento estudantil como centro irradiador de minha aprendizagem, desde o ensino médio. Aprendi, então, que fazer movimento estudantil é se mexer, agir, reagir, remexer, deslocar, aceitar, questionar, negar, negociar, aprender, desaprender, informar, reformar, descontruir e, enfim, CONTRUIR!

Fazer movimento estudantil, portanto, é estar no grêmio, no centro acadêmico, no grupo de teatro, no movimento cultural, nos eventos fora da sala de aula, nas festas da escola, nos fóruns de discussão, nos grupos de leitura, nos projetos de extensão com a comunidade, nos conselhos deliberativos, nas reuniões de estudantes e da escola, ufa, escolher isto é estar em todos ou, pelo menos, em alguns destes lugares. Vale dizer que é importante participar, é bem verdade, mas sempre de maneira autônoma, pois o estudante comprometido é aquele que luta por ideais, para não o confudirmos com aqueles que adoram bajular os “superiores” nos espaços escolares, afinal, o mobilizar estudantil requer, sim, negociar, mas nunca render-se.

Esta não é uma tarefa fácil, pois, o aluno que faz movimento estudantil, não pensa só em si, e este é o seu diferencial, ele pensa no outro e se sente responsável por este outro. Por isso, muitas vezes o acusam de não ter tempo, de não estudar e não ser responsável com seus trabalhos (bradam alguns professores e colegas). Ora, mas quem não é reponsável, não o é por muitos fatores, afinal, conhecemos muitos estudantes que não fazem movimento estudantil e, nem por isso, são modelo de reponsabilidade. E conhecemos sim, muitos estudantes que fazem movimento estudantil e se comprometem com o estudar permanente que a escola lhes solicita.

O estudante que faz movimento estudantil é acusado de ser intolerante, de ser confuso ou de fazer confusão, de ser briguento, de ser teimoso, de ser baderneiro, vândalo, bagunceiro...! Mas, às vezes, não observamos que há pessoas especiais ou não, fáceis ou difíceis, tolerantes ou não entre estudantes, professores, vendedores, deputados, enfim, é esta a diáletica do próprio convívio humano. Assim, o que torna estes estudantes diferentes é o compromisso que assumem com a tarefa de transformar a vida dos outros.

Esta tarefa não é fácil, requer tempo, dedicação; deixar, muitas vezes, as próprias coisas de lado e sublimar o individual pelo coletivo. É difícil mesmo escolher este caminho, pois fazê-lo é assumir, desde então, o compromisso de não pensar só em si. Loucura? Não! As recompensas, as diferenças, a aprendizagem e o crescimento de estar nesta caminhada, de resolver em grupo, de aprender com o outro, de tomar decisões não estão no livro. Costumo dizer, sempre, aos meus alunos, que a universidade me deu muito, mas eu não seria o que sou sem o movimento estudantil. As aulas inesquecíveis que tive não superam os momentos de aprendizagem com os choros, as brigas, as noites viradas, as assembléias, as passeatas, as viagens, os amigos, as alegrias e as pancadas que o movimento estudantil me legou. Difenrentes, estas duas dimensões se irmanam na minha formação, são, pois, dois pedaços inseparáveis (com defeitos e qualidades) na formação da profissional que sou hoje.

Se valeu a pena? Tanto quanto todos os livros que li!

Em uma palestra, na universidade, uma certa vez, um educador disse que se a universidade (e eu estendo isto à escola) plantar em cada estudante a capacidade de se indignar diante de uma injustiça social, ela já fez muito da sua parte! Eu acredito nisto e, mais ainda, acredito que fazer movimento estudantil, é tomar isto como tarefa na construção de um mundo melhor, para sempre!



[1] Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do IFBA. Licenciada em Letras Vernáculas e mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS. Entre outras coisas, foi coordenadora geral do Diretório Acadêmico de Letras e do Diretório Central dos Estudantes, na Universidade Estadual de Feira de Santana.
 

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